Thursday, October 26, 2006

UM VISITANTE INESPERADO





Entrou-me, casa adentro, sorrateiramente, pela fresta da janela da sala, que deixo sempre entreaberta, e uma vez postado em cima do globo de papel, logo chilreou, estridentemente!!!

Assustado, corri para a sala e lá estava ele, a piscar os olhos e a abanar a cabecita, rogando-me guarida por essa noite - pensei eu - acenei-lhe afirmativamente!!!

Voou logo para a cozinha, como que sabendo os cantos à casa e postou-se em cima do frigorífico. "Falou" mais uma vez comigo. Pensei que quria alimentar-se - mas estava bem gordinho o safado! Pus-lhe, a conselho da Nucha, a quem logo telefonei a pedir conselhos sobre esta tão estranha intrusão, uns bocadinhos de maçã e uma pequena malga com água, em que não tocou.

Deixei-o em paz, mas fechei a porta da cozinha com a janela também sempre entreaberta! Não queria que asfixiasse durante a noite! Isto eram uma 21h20m.

Ia, de seguida, tomar café com o meu amigo e camarada d'armas, Júlio e antes de sair dei uma vistas de olhos - JÁ NÃO O VI! Triste, pensei, já se foi !!

Não importa, é livre de voar(aqui lembrei-me da canção da gaivota dos tempos do 25Abril74)

Da Ermelinda Duarte - "Uma gaivota voava, voava":

Ontem apenas fomos a voz sufocada dum povo a dizer não quero; fomos os bobos-do-rei mastigando desespero. Ontem apenas fomos o povo a chorar na sarjeta dos que, à força, ultrajaram e venderam esta terra, hoje nossa. Uma gaivota voava, voava, asas de vento,coração de mar.Como ela, somos livres, somos livres de voar. Uma papoila crescia, crescia, grito vermelho num campo qualquer. Como ela somos livres, somos livres de crescer. Uma criança dizia, dizia"quando for grandenão vou combater". Como ela, somos livres,somos livres de dizer. Somos um povo que cerra fileiras, parte à conquistado pão e da paz. Somos livres, somos livres, não voltaremos atrás.

Não, de facto NÃO, mas parece, com outras nuances!!!

Regressei do café, afinal, lá estava ele, já a dormir aconchegado em cima do armário junto ao calor do esquentador - sem perigo de se chamuscar. Acabei por me deitar às 4h da matina, agitado por sentir uma presença estranha e agradável que me acompanhava naquela noite. Acordou-me às 1oh, a "gritar". Em cima da porta, agradeceu-me o ter-lhe proporcionado uma tranquila guarida. Voltei para a cama e... alguns minutos passados ouvi um último adeus, um bater de asas e uma saudação ao passar pela janela do meu quarto - de facto tinha partido~com o seu destino traçado - ATÉ SEMPRE COMPANHEIRO AMIGO!


Saturday, October 21, 2006

No Jardim da Burra

Esta estátua, pequena maravilha de realismo rural, está colocada num local central de Lisboa, um espaço entre a basílica, uma rua e o HMP, arborizado, ajardinado, uma fonte de pedra-mármore no meio, seca, com bancos corridos com costas, cercado de carros estacionados e outros em movimento, há uma estação intermédia, donde partem e chegam eléctricos - o 28? - ABANDONADA, desprezada, completamente anónima - sem autor e sem nome, à vista!

Mas a estátua reflecte bem o que era uma família rural no sec. XIX e início do XX neste pobre país - pobre em todos os aspectos e miserável pelos governantes que teve e tem, ainda hoje, nesta demooligarquia dos endinheirados!

O sítio chama-se, popularmente Jardim da Burrra, pois é a burrica, certamente a base de sustentação desta família - o seu meio de transporte que lhe permite ir trabalhar para produzir a sua alimentação e a sua "riqueza" - porque será que está assim tão abandonada, num pobre jardim, mesmo em frente do rico Jardim da Estrela?

Nos próximos capítulos desenvolveremos a descrição desta obra de arte feita ao mínimo pormenor...